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1 |
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E P I L E P S I A
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A
história da epilepsia é, provavelmente, tão antiga quanto a da espécie
humana (Penfield e Jasper, 1954). Os povos antigos acreditavam que os
epilépticos eram tomados, possuidos, por maus espíritos e demônios, o
que explica a etimologia do nome epilepsia, do grego
epilambanein, que significa tomar, capturar, possuir (Niedermeyer,
1990). Tem-se notícia que, entre 400 aC. e 200 dC., Hipócrates,
acompanhado por Arateus, Celsus e Plínius, centraram seus estudos na
identificação da epilepsia como uma doença do cérebro. Data, portanto,
dessa época a definição da condição epiléptica como de natureza clínica
(Niedermeyer, 1990). Avanços significativos nessa direção se seguiram
ao longo do tempo até a segunda metade do século XVIII, quando o médico
suiço Samuel Auguste Tissot apontou a epilepsia como fenômeno decorrente
de lesões cerebrais, como tumores, AVCs e traumatismos, e que o estudo
destas lesões seria fundamental para a compreensão da doença (Karbowiski,
1984 apud Niedermeyer, 1990). No século XIX, Bouchet e Cazauvieilh
(1825), através da análises de autópsias, observaram diversos tipos de
lesão no cérebro de pacientes epilépticos (citado por Babb e Brown,
1984). Tais observações influenciaram Sommer (1880), que num primeiro
estudo microscópico, descreveu algumas alterações patológicas no
hipocampo de seus pacientes (citado por Menncke e Veith, 1992). Sommer
chamou tais alterações de esclerose hipocampal que identificou como
possível causa da epilepsia (McNamara, 1994).
A epilepsia é uma síndrome caracterizada por crises espontâneas e
recorrentes, podendo ser o resultado de descargas paroxísticas,
excessivas e sincrônicas de uma população neuronal. Muitos fatores podem
estar envolvidos nestas descargas anormais, e as manifestações clínicas
dependem do tipo e da localização do grupo neuronal envolvido. Além
disso, estas crises podem ser observadas em muitas doenças que, direta
ou indiretamente envolvem o sistema nervoso, incluindo os desequilíbrios
iônicos e eletrolíticos, as desordens no metabolismo dos carboidratos,
dos aminoácidos e lipídios, de infecções, intoxicações, tumores ou
traumas encefálicos e da elevação da temperatura corporal
(Wasterlain,1989).
Apesar
de
não
ser
definida
como
uma
doença
específica,
a
epilepsia
representa
um
grupo
complexo
de
desordens
cuja
principal
característica
é a
manifestação
de
crises
epilépticas espontâneas e
recorrentes
(CER)
que
se desenvolvem a
partir
de certas áreas do sistema nervoso central (SNC) (Guerreiro et al., 2000;
Dichter, 1997). As expressões “desordem epiléptica”, “desordem convulsiva”,
“síndrome epiléptica” e “desordem de crise” têm o mesmo significado. Todas
se referem a episódios de disfunção cerebral manifestados por alterações
estereotipadas do comportamento (Engel e Pedley, 1997). Segundo Guerreiro
(2000), “crises epilépticas são eventos clínicos que refletem disfunção
temporária de um conjunto de neurônios de parte do encéfalo (crises focais),
ou de área mais extensa, envolvendo simultaneamente
os
dois
hemisférios
cerebrais
(crises
generalizadas)”.
Padrões
sincrônicos e
excessivos
de
disparos
anormais
de uma
população
neuronal
são
as
principais
causas
das
crises
epilépticas (McNamara, 1999)
que
são
classificadas
em
mais
de 40
tipos
distintos.
Esta classificação é
definida
não
só
pelo
tipo
de
manifestação
mas
também
por
características
clínicas,
como
padrão
de
recorrência
das
crises,
causa,
idade
de
início
dos
eventos
epilépticos,
presença
ou
ausência
de
ocorrência
na família,
padrões
eletroencefalográficos,
e
prognóstico
da
doença
(Engel e Pedley, 1997).
Um
destes
tipos,
a
epilepsia
do
lobo
temporal
(ELT), é
alvo
de
intensa
investigação,
por
sua
alta
prevalência
e
por
ser,
em
geral,
refratária
ao
tratamento
medicamentoso (Guerreiro
et al., 2000).
Segundo
a
tabela
de classificação
internacional
das
síndromes
epilépticas (ver
Guerreiro
et al., 2000), a ELT é caracterizada
por
crises
parciais
recorrentes,
simples
e complexas, e corresponde à
cerca
de 50% das
epilepsias.
(voltar) |
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|
|
Por
Beatriz Monteiro Longo |
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|
|
Em
estudos
mais
recentes
baseados
no
resultado
positivo
de
recuperação
total
ou
parcial
dos
pacientes
epilépticos
submetidos à
cirurgia
de hipocampectomia, acrescido de
informações
obtidas
nos
registros
eletroencefalográficos
dessa
estrutura,
e
análise
do
material
retirado das
cirurgias
ou
autópsias,
verificou-se
que
as alterações patológicas localizavam-se nas
estruturas
mesiais
temporais,
particularmente
no
complexo
hipocampal e
amígdala.
Inicialmente
foram
chamadas
de
esclerose
incisual (Earle et al., 1953),
esclerose
pararrinal (Gastaut et al., 1975),
atrofia
temporal
esclerótica
(Mathieson, 1975) e,
como
é
chamada
até
hoje,
esclerose
mesial
temporal
(EMT)
ou
esclerose
hipocampal (Falconer et al., 1964). O acompanhamento desses
casos
mostrou
que
a
maioria
desses
pacientes
passou
por
convulsões
febris intensas
ou
repetidas,
ou
estado
de
mal
epiléptico
(SE) na
infância,
desenvolvendo
mais
tarde
uma epilepia do
lobo
temporal
(ELT) (Sagar e Oxbury, 1987; Meldrun e Bruton, 1992). O
lobo
temporal
é o
mais
epileptogênico dos
lobos
cerebrais
(Rasmussen, 1975). Quarenta e
oito
porcento das
epilepsias
parciais,
ou
focais, se originam no
lobo
temporal
e,
mesmo
quando
são
consideradas
formas
generalizadas de
epilepsia,
elas
ainda
são
estatisticamente expressivas (40%) (Gastaut et al., 1975). A
idéia
de
que
a
atividade
epiléptica
na ELT é, possivelmente, gerada no
complexo
hipocampal
poderia,
então,
ser
confirmada
através
do
estudo
de
alguns
fatores
associados
a vulnerabilidade epileptogênica dessa
estrutura
(Niedermeyer, 1990 ).
De
fato,
a
estrutura
mais
danificada na ELT é a
formação
hipocampal
que
exibe uma
perda
neuronal
seletiva
resultando na
esclerose
hipocampal (McNamara, 1994).
Em
muitos
casos
esse
termo
descreve uma
grande
perda
das
células
piramidais
do CA1 e CA3 e
neurônios
da
região
polimórfica do
giro
denteado (PoDG
ou
hilo). As
células
piramidais
do CA2 e
granulares
do
giro
denteado (DG)
são
mais
resistentes (Meldrum e Bruton, 1992). Os
principais
fatores
responsáveis
pela
vulnerabilidade
diferente
entre
os
neurônios
hipocampais
frente
a uma
condição
epiléptica
estão relacionados à variação na
expressão
de
receptores
e
proteínas.
A
região
do hilo, o CA1 e CA3
são
regiões
de
neurônios
ricos
em
receptores
glutamatérgicos do
tipo
NMDA,
mais
concentrados
no CA1, e do
tipo
cainato, no
caso
do hilo e CA3 (Geddes et al., 1986; Tremblay et al., 1985).
Estes
receptores,
quando
ativados,
permitem
um
influxo
de
cálcio
que
em
altas
concentrações
pode
levar
à
morte
celular.
Por
outro
lado,
a
presença
de
proteínas
tamponadoras de
cálcio
como
a calbindina e a cromogramina podem
promover
uma
maior
resistência
à
lesão
neuronal (Babb et al., 1991; Sloviter, 1991).
O
fato
da
retirada
do hipocampo esclérótico
resultar
em
uma
melhora
dramática
do
quadro
epiléptico,
sugere
que esta
estrutura
origina o
distúrbio
epiléptico.
Dessa
forma,
parece
plausível
que
crises
intensas possam
causar
esclerose
hipocampal,
mas,
uma
vez
desenvolvida,
a
própria
esclerose
pode
ser
causa
da
epilepsia
(McNamara,1994).
Anatomicamente,
o
giro denteado (DG), o
hipocampo propriamente
dito
ou
corno de Ammon (CA),
juntamente
com o
complexo subicular (subículo, para-subículo e
pré-subículo) e
córtex entorrinal compõem a
formação hipocampal . Na
subdivisão do
hipocampo
em
áreas CA1 (a, b, c), CA2, CA3 (a, b, c) e CA4,
designadas
pelo
anatomista Lorente de
Nó (1934), a
região
superior da
estrutura é
chamada de CA1 , a
inferior de CA3,
com a
pequena
área CA2
entre
elas, e a
última
área CA4. Esta
última foi
posteriormente incorporada ao
giro denteado, e constitue
com
ele o hilo hipocampal,
também
conhecido
por
região polimórfica (PoDG). Tem sido
questionado se a
região CA2 deveria
ser considerada separadamente das
áreas
adjacentes CA1 e CA3.
Em seccões coradas do
cérebro de
roedores
adultos, é
difícil
detectar o
segmento CA2. No
entanto, ontogeneticamente a
região do CA2 se desenvolve
dois
ou
três
dias
mais
cedo do
que as
regiões CA1 e CA3.
Como
já descrito
acima, essa
região
também apresenta uma
maior
resistência a
destruição
pela
administração de
certas
toxinas (ex:
agentes epileptogênicos) do
que as
áreas
adjacentes.
Isso implica
que a
área CA2 possui
diferenças neuroquímicas qualitativas
ou quantitativas
em
relação a
sua
vizinhança.
Descrições
alternativas das
áreas hipocampais vêm sendo apresentadas de
tempos
em
tempos, algumas das
quais
ainda
são utilizadas.
Um delas é oferecida
pelo
anatomista M. Rose
que
por
volta de 1920 descreveu o
hipocampo
em
termos de
áreas “h” (Lorente de
Nó, 1934). Nesta
terminologia, h1 é equivalente ao CA1 e à uma
pequena
porção do
córtex de
transição, o h2 equivale ao CA2 e à algumas
áreas
adjacentes da
região CA3, o h3 e h4 ao
que
sobra da
região CA3, e h5 ao CA4. O
sistema “h” é
em
geral utilizado
pelos neuropatologistas
que
também definem
regiões
especialmente
sensíveis a
danos
por
epilepsia e hipóxia
como o
setor de Sommer.
Este
termo se refere à
área h1
que inclui o CA1 e
parte do
tecido
interno a
ele (subículo e pré-subículo).
O hipocampo propriamente
dito é
composto
por
três
camadas: molecular, polimórfa e
camada de
células
piramidais.
Devido à
diferença na
organização dos axônios e dendritos, estas
camadas
são subdivididas
em
seis
lâminas (N’Guyen et al., 1987; Lopes da Silva
et al., 1990; Lorente de
Nó, 1934).
-
epêndima
ou
zona epitelial,
que
forma o
revestimento da
superfície ventricular do
hipocampo.
-
alveus, constituido
por
fibras
aferentes e
principalmente eferentes da
formação hipocampal
que originam a
fímbria e o fórnix;
-
stratum oriens, formado
por axônios e dendridos
basais das
células
piramidais, contém
outros
tipos
celulares
como as
células
em
cesto
que
são interneurônios inibitórios do
hipocampo;
-
stratum
piramidales,
composto
por
agrupamento
denso de
células
piramidais,
principal
tipo
celular do CA;
-
stratum radiatum, é a
camada
que se caracteriza
por
corpos
celulares
esparsos e
vários
sistemas de
fibras
com aspécto radiado;
-
stratum
lacunoso moleculare, formado
pelas ramificações dos dentritos apicais das
células
piramidais.
O
giro denteado
também possui
três
camadas:
camada molecular,
camada
granular, e hilo
ou PoDG,
que,
entre
outros
tipos neuronais, contêm as
células musgosas. Os
mais
importantes interneurônios desse
complexo
são as
células
em
cesto, encontradas
principalmente nas
camadas
piramidal e
granular.
São consideradas de
influência inibitória e fazem sinapse
com as
células
piramidais do CA (corno de
Ammon) e
com as
granulares do
giro denteado (Robert et al., 1996).
O
subículo,
que
forma a
parte
superior do
giro para-hipocampal e margeia a
parte
inferior da
fissura hipocampal, representa a
transição do
córtex de
três
camadas do
hipocampo e DG
até o
córtex de
seis
camadas da
área entorrinal do
giro para-hipocampal; esta
transição ocorre
gradualmente.
Diferenças citoarquitetônicas permitiram
dividir essa
estrutura, da
superfície
para a
profundidade,
em para-subículo, pré-subículo e subículo
propriamente
dito (Lopes da Silva et al., 1990; Lorente de
Nó, 1934).
O
córtex entorrinal,
nos
roedores, é subdividido
em
regiões
medial e
lateral. Constitui a aferência
mais
importante do
hipocampo e
giro denteado. Origina a
via perfurante, alêm de outras
projeções da
área entorrinal
lateral
para o estriado,
amígdala e outras
áreas corticais. O
córtex entorrinal recebe
fibras do
córtex
sensorial, olfatório,
visual, somatosenssorial e de
estruturas subcorticais (Amaral et al.,1989;
Insausti et al., 1987).
As
informações do
córtex entorrinal (CE) chegam no
complexo hipocampal
através da
via perfurante alcançando
primeiramente o
giro denteado.
Por
sua
vez, as
células
granulares do
giro denteado se projetam
para o CA3
por
seus axônios
conhecidos
por
fibras musgosas. Essas
fibras fazem sinapse
com as
células musgosas do PoDG e
com
células
piramidais de CA3,
que
através de
suas
projeções, alcançam o CA1
por
vias eferentes formando o
sistema
colateral de Schaffer. A
região CA1 envia
projeções ipsilateralmente
para o subículo e CE, de
onde as
informações processadas seguem
para outras
estações. Os
campos da
formação hipocampal estão ligados
por
conexões
largamente
unidirecionais.
Este
circuito e
suas
conexões formam a
clássica
via tri-sináptica hipocampal (Curtis et al., 1992).
As sinapses desta circuitaria
são predominantemente excitatórias, sendo
que a
inibição se faz
principalmente
por interneurônios localizados no hilo (PoDG) e
na
região do
corno de Ammon. Os
principais
neurotransmissores envolvidos neste
circuito
são o
glutamato e o
GABA. O CE tem
projeções difusas
para
quase
todo o
manto cortical ipsilateral, incluindo o
córtex
piriforme, o
giro do cíngulo e o
córtex pré-frontal, e
projeções
menores
para o
lado contralateral homólogo.
Além disso, o
córtex entorrinal está conectado de
forma bidirecional
com
áreas
que incluem os
núcleos septais, a
amígdala e o
córtex
temporal
inferior.
Em
resumo, a
formação hipocampal participa de uma
série de
circuitos anatômicos
que envolvem
áreas corticais e subcorticais.
No
nível
do PoDG, as
células
musgosas
que
recebem aferências excitatórias das
fibras
musgosas (axônios das
células
granulares
do DG), inervam as
células
em
cesto
e estas,
por
sua
vez,
inervam as
células
granulares,
estabelecendo
assim
um
circuito
recorrente
inibitório
com
estas últimas.
Este
circuito
é
extremamente
importante
na
discussão
da participação do
hipocampo
na
gênese
das
crises
epilépticas.
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(voltar) |
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Þ Alterações
Estruturais do Hipocampo na ELT |
Por
Simone
Bittencourt
e
Luiz Eugênio
Mello |
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Há duas alterações anatômicas sobressalentes encontradas no hipocampo
de portadores de ELT: a esclerose hipocampal e o brotamento das
fibras musgosas (BFM).
A atrofia ou esclerose hipocampal é caracterizada macroscopicamente
por endurecimento e redução volumétrica do hipocampo. Estas
alterações foram observadas pela primeira vez em 1825, por Bouchet e
Cazauvieilh, por meio de estudo post mortem em pacientes
epilépticos (Bouchet e Cazauvieilh, 1825). Em 1880, Sommer, observa microscopicamente, que a
esclerose é causada por perdas neuronais do hipocampo (Falconer, 1968). As perdas neuronais mais acentuadas são
observadas no pró-subículo, CA1 (Mathern et al., 1996), CA3 e hilo (Dam, 1980; Babb et al., 1984; Houser
et al., 1992). Segundo achados em modelos experimentais, as
células hilares são uma das primeiras populações neuronais do
hipocampo a morrer (Nadler et al., 1980b; Sloviter, 1987; Cavazos e
Sutula, 1990). Em tecido de pacientes epilépticos tratados
cirurgicamente (Sutula et al., 1989; Houser et al., 1990; Babb et al.,
1991; El Bahh et al., 1999) e em modelos animais de ELT (Buckmaster e Dudek,
1997; Nissinen et al., 2001), a perda dos neurônios do hilo parece
correlacionar-se com a extensão do BFM. No hilo existem vários tipos
de células, sendo as células musgosas aparentemente as mais
vulneráveis a morte (Margerison e Corsellis, 1966; Dam, 1980; Babb et
al., 1984) e, especificamente talvez ainda mais vulneráveis,
as células musgosas negativas para CGRP (peptídeo relacionado ao gene
calcitonina) (Longo et al., 2003). Porém, mesmo com relatos de que há relação entre
a morte das células hilares e o surgimento do BFM, há diversos estudos
que colocam em questão a obrigatoriedade da relação entre a morte
dessas células e o BFM (Adams et al., 1997; Stringer et al., 1997; Gombos et al., 1999). Por outro lado, o grau de lesão das células
hilares não é de forma alguma homogêneo entre os vários modelos (por
exemplo, estimulação elétrica e ácido caínico) e em alguns casos nem
para um mesmo modelo (por exemplo o ácido caínico) (Sloviter et al.,
2003).
Morfologicamente, o BFM é caracterizado pela
reorganização dos axônios das células granulares (fibras musgosas)
para dentro do 1/3 interno da camada molecular do giro denteado
(Sutula et al., 1989) (Figura 2). Esse brotamento pode ser facilmente
visualizado pela técnica de neo-Timm, devido a concentração elevada de
zinco nos terminais sinápticos das fibras musgosas, sendo que a
técnica de Timm marca seletivamente terminais sinápticos que contenham
zinco (Danscher, 1981). O BFM foi descrito pela primeira vez por Nadler,
Perry e Cotman, em 1980, que ao lesarem experimentalmente o hilo e o
CA3 com ácido caínico (um agonista glutamatérgico) observaram o
surgimento de brotamentos a partir daquelas áreas lesadas (Nadler et
al., 1980a). Evidentemente a reorganização
axonal pós-lesão, não é propriedade exclusiva das fibras
musgosas, ocorrendo em vários outros locais no sistema nervoso central
(Salin et al., 1995; Perez et al., 1996; McKinney et al., 1997;
Esclapez et al., 1999). O primeiro brotamento axonal foi descrito em
neurônios intracorticais, por Ramón y Cajal, em 1928 (Ramón y Cajal,
1928). Cajal sugere que um novo brotamento pode ser
capaz de formar novas sinapses e assim aumentar a atividade dentro dos
circuitos corticais. A idéia de que o brotamento pode aumentar a
ativação neuronal, também esteve presente no descobrimento do BFM, o
que fez com que este brotamento passasse a figurar no rol das
possíveis causas para explicar as crises epilépticas das epilepsias do
lobo temporal com esclerose mesial. Ainda nos dias atuais, a hipótese
de que o BFM é um dos principais responsáveis por fornecer o substrato
epileptogênico ao hipocampo é bastante forte. Esta consideração leva
em conta, principalmente, a coincidência entre o surgimento do
brotamento e o aparecimento das crises epiléticas, o qual pode ser
verificado tanto na epilepsia humana (de Lanerolle et al., 1989;
Sutula et al., 1989; Houser et al., 1990; Houser, 1999), como em modelos experimentais de ELT (Tauck e
Nadler, 1985; Sutula et al., 1988; Mello et al., 1992). Importante observar que os primeiros trabalhos
nessa área também enfatizavam a ausência do BFM em animais de
laboratório e em seres humanos não epilépticos (Tauck e Nadler, 1985;
Sutula et al., 1988; Ribak e Peterson, 1991; Mello et al., 1992;
Seress, 1992). |
(voltar) |
|
|
|
Por
Simone
Bittencourt
e
Luiz Eugênio
Mello |
|
Sabe-se que o BFM tem capacidade excitatória, porém a “resultante
funcional” do circuito reorganizado pelo brotamento, é muito
questionada, uma vez que esta resultante não só depende do tipo de
conexão final realizada pelo brotamento (ou seja, conexão com os
dendritos das células granulares ou conexão com os interneurônios), como
também depende da capacidade de condução do potencial de ação pelo
próprio brotamento. Se o terminal sináptico do brotamento realiza
sinapse com os dendritos das células granulares, o circuito resultante
provavelmente é excitatório recorrente, mas por outro lado, se o
terminal sináptico do brotamento realiza sinapse com os interneurônios
inibitórios, o circuito resultante provavelmente é inibitório
recorrente. Há inúmeras evidências, da possibilidade do BFM formar
sinapses com células granulares e com interneurônios inibitórios. A
partir destes fatos, duas hipóteses são constantemente testadas: 1)
Hipótese excitatória recorrente - sugere que o BFM é pró-epileptogênico,
capaz de potencializar os circuitos excitatórios hipocampais,
tornando-os susceptíveis as crises epilépticas; 2) Hipótese inibitória
recorrente - sugere que o brotamento é um ajuste homeostático que
diminui a susceptibilidade para ocorrência de crises epilépticas.
Fisiologicamente, as células musgosas hilares
recebem aferências dos
axônios excitatórios das células granulares (as
fibras musgosas) e projetam os seus axônios para células inibitórias que
por sua vez lançam suas conexões inibitórias para o dendritos das
células granulares, promovendo uma inibição recorrente para as células
granulares (Wuarin e Dudek, 1996). Com a morte das células
musgosas as células inibitórias
perderiam o tônus excitatório e conseqüentemente as células granulares
ficariam sob uma menor ou ausente influência inibitória (Babb et al.,
1991; Houser et al., 1992). Esse fenômeno da morte das células musgosas
propiciaria um rearranjo do sistema nervoso para suprir as sinapses
perdidas. Não é sabido o motivo, mas o rearranjo é oportunamente
realizado pelas fibras musgosas diretamente sobre a árvore dendrítica
das próprias células granulares, promovendo assim a substituição de
sinapses inibitórias (das células inibitórias deaferentadas), por
sinapses excitatórias (Tauck e Nadler,
1985; Cavazos e Sutula, 1990; Elmer et al., 1997), transformando desse modo, as células granulares em
células auto-excitáveis.
A hipótese
excitatória recorrente
é reforçada com o aparecimento simultâneo, em modelos com animais de
laboratório, do BFM com as crises epilépticas espontâneas
(Cronin e Dudek, 1988; Wuarin e Dudek, 1996; Buckmaster e Dudek, 1997;
Lynch e Sutula, 2000; Wuarin e Dudek, 2001). Evidências adicionais à
hipótese
excitatória recorrente, decorrem de estudos eletrofisiológicos e
morfológicos caracterizando a hiperexcitabilidade decorrente desses
circuitos, não só em modelos animais de epilepsia
(Tauck e Nadler, 1985; Cronin e Dudek,
1988; Isokawa e Mello, 1991; Wuarin e Dudek, 1996) mas também em seres
humanos epilépticos (Isokawa et al., 1991; Masukawa et al., 1992;
Mathern et al., 1997).
Complementarmente, acredita-se que o BFM aumenta a função excitatória
por meio da liberação do zinco de seus terminais sinápticos, que por sua
vez difunde-se para sinapses inibitórias da camada molecular interna,
bloqueando o funcionamento das mesmas (Buhl et al., 1996; Shumate et
al., 1998). Conseqüentemente, a fragilidade da inibição
propiciada pelo BFM, poderia explicar a susceptibilidade às crises pelos
pacientes com ELT (Wu e Leung, 2001).
Contrariamente à hipótese excitatória recorrente,
inúmeros estudos argumentam contra a possibilidade do BFM facilitar a
epileptogênese, e enfatizam diversas
outras vertentes como a já mencionada diminuição do tônus excitatório
sobre os neurônios inibitórios, o aumento da inibição em decorrência de
brotamento de fibras musgosas sobre neurônios inibitórios e a
fragilidade dos axônios brotados em conduzir potenciais de ação entre
outros achados (Ribak e Peterson, 1991; Sloviter, 1992; Elmer et al.,
1997; Kotti et al., 1997; Longo e Mello, 1997; Timofeeva e Peterson,
1999; Scharfman et al., 2003). Embasando a hipótese
do brotamento realizar sinapses com interneurônios inibitórios, Sloviter
(1992), por exemplo, mostra in vivo que a inibição é maior no
giro denteado, quando o brotamento ocorre, do que em animais sem
brotamento (animais controle) (Sloviter, 1992). Como também em ratos tratados com Pilo (agonista
colinérgico, capaz de promover status epilepticus - vide Anexo I)
além do aumento da inibição no giro denteado, as crises iniciais geram
ondas de hiperpolarização (Zappone e Sloviter, 2004). Por outro lado, independentemente do BFM realizar
contatos inibitórios ou excitatórios, há relatos de que as fibras do BFM
têm um baixo potencial para conduzir o potencial de ação, gerando
falências na condutibilidade do estímulo, possivelmente devido ao
diâmetro de suas fibras e/ou ausência de mielina (Molnar e Nadler, 1999;
Scharfman et al., 2003), portanto, não justificando o seu papel
pró-epileptogênico. Estudos eletrofisiológicos corroboram essa idéia de
que o BFM possui uma fraca condutibilidade do estímulo (Timofeeva e
Peterson, 1999; Scharfman et al., 2003).
Outro dado, a favor da hipótese inibitória
recorrente, é a ausência de relação entre a extensão do brotamento e
freqüência das crises epilépticas, em humanos e em modelos experimentais
de epilepsia (Cronin e Dudek, 1988; Buckmaster e Dudek, 1997; Timofeeva
e Peterson, 1999; Ying et al., 1999; Mohapel et al., 2000; Pitkanen et
al., 2000; Nissinen et al., 2001; McKhann et al., 2003; Scharfman et
al., 2003), mesmo com a coincidente história do aparecimento
simultâneo do BFM a das crises epilépticas, embora alguns investigadores
ofereçam interpretações alternativas para esse acontecimento (Xu et al.,
2004a). Neste estudo, Xu e colaboradores relatam que em
roedores “propensos a ter crises”, embora não haja correlação entre o
BFM e a susceptibilidade ao status epilepticus, há uma correlação
entre o BFM e a freqüência de crises espontâneas e recorrentes, porém,
dentre os 4 tipos de roedores analisados por estes pesquisadores, essa
correlação só foi verificada nesta linhagem “propensa a ter crises”, não
sendo verificada qualquer relação entre as outras três linhagens
analisadas (roedores resistentes às crises, Wistar e Long-Evans
hooded). Um outro estudo realizado pelos mesmos autores, demonstrou que
a infusão aguda de fator neurotrófico derivado do encéfalo (BDNF)
aumenta excitabilidade sem contudo causar qualquer brotamento (Xu et
al., 2004b), e assim neste estudo, argumentado pela ausência de
relação obrigatória entre BFM e crises geradas pelo hipocampo. Outros
autores, por métodos diferentes, também compartilham da mesma conclusão
(Elmer et al., 1997). Complementarmente, outros pesquisadores têm
demonstrado que animais sem crise podem apresentar significativo BFM
(Nissinen et al., 2001).
Estudos
anatômicos e fisiológicos
realizados em nosso laboratório, utilizando
um inibidor de síntese protéica (ciclohexamida - CHX) para bloquear o
BFM, têm embasado a hipótese de que o BFM é
um epifenômeno com relação a epilepsia (fenômeno não relacionado ao
desenvolvimento das crises epilépticas), uma vez que a presença ou
ausência do brotamento é indiferente para ocorrência de crises (Longo e
Mello, 1997; Longo et al., 2002). Porém, outros
autores não validaram esses dados visto não terem conseguido replicar os
estudos acima (Williams et al., 2002). Porém dados recentes do nosso labolatório (dados
submetidos para publicação), obtidos por meio de microscopia eletrônica
de transmissão, junto com nossos achados anteriores, endossam que a
presença ou ausência do BFM é indiferente a ocorrências de crises
epilépticas
(Longo e Mello, 1997; Longo et al., 2002; Bittencourt - 2005 - dados
submetidos para publicação). |
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Þ Plasticidade
sináptica x epilepsia |
Por
Simone
Bittencourt
e
Luiz Eugênio
Mello |
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A sinapse é responsável pela transmissão de sinais neurais
de neurônio a neurônio. Tendo a capacidade de transmitir alguns sinais
e de refugar outros. É devido a essa transmissão variável dos sinais,
que a sinapse talvez seja o determinante mais importante da função do
sistema nervoso central. As sinapses são estruturas dinâmicas que
variam a sua morfologia de acordo com o contexto em que se encontram
(Toni et al., 2001), como por exemplo em condições normais nos processo
de aprendizagem ou em condições de epilepsia. Assim sendo,
possivelmente, uma das formas de entender o papel do BFM na ELT é por
meio de análises das sinapses na intimidade de suas estruturas. Nessa
linha de raciocínio, vários estudos têm sido relevantes na
caracterização da reorganização sináptica em humanos e em modelos
experimentais de ELT. Em decorrência desses estudos são claras as
evidências de que as sinapses formadas na CMI do giro denteado, são
primariamente excitatórias e em espinhos dendríticos (Isokawa, 1998,
2000) e, que o BFM é caracterizado por sinapses tanto com
interneurônios inibitórios como excitatórios (Okazaki et al., 1995;
Zhang e Houser, 1999; Cavazos et al., 2003).
Estudos recentes têm demonstrado que a
resultante funcional do circuito de uma região,
está relacionada à eficiência sináptica daquela região. É sabido que
esta eficiência sináptica é morfologicamente caracterizada pela presença
de sinapses perfuradas e sinapses não-perfuradas (Toni et al., 2001;
Ganeshina et al., 2004). Vários estudos têm comprovado a relação entre a
intensificação da atividade sináptica, e aumento do número de sinapses
perfuradas, a exemplo: potencial de longa duração (LTP) (Geinisman,
1993; Buchs e Muller, 1996; Schuster et al., 1998; Weeks et al., 2000), abrasamento (Geinisman et al., 1988, 1992), estimulações elétricas repetidas (Artyukhina e
Ryabinina, 1980), aprendizagem comportamental (Vrensen e Cardozo,
1981; Van Reempts et al., 1992) e ambiente enriquecido (Greenough et al., 1978;
Sirevaag e Greenough, 1985).
Outras evidências a partir
de estudos ultra-estruturais
realizados na região CA1 do hipocampo, sugerem que as sinapses
perfuradas, podem evocar resposta pós-sináptica maior que as sinapses
não-perfuradas (Ganeshina et al., 2004). O motivo para uma maior eficiência por parte
das sinapses perfuradas é o maior aporte de receptores AMPA e NMDA
verificados nessas sinapses, em relação às sinapses não-perfuradas
(Ganeshina et al., 2004). Esses achados reforçam a idéia de que a
potencialização da transmissão sináptica pode estar associada a algumas
formas de plasticidade sináptica. Assim, o perfil morfológico e a
proporção de receptores encontrados em uma dada sinapse, fazem parte das
particularidades envolvidas no controle de cargas “positivas e
negativas” no sistema nervoso central (Gray, 1959; Parnavelas et al.,
1974; Matus et al., 2000) e, acredita-se que possivelmente estejam alteradas no
contexto da epilepsia. |
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Þ Cirurgia
em Epilepsia |
Por
Julieta Gonçalves S. P. Melo |
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A epilepsia é um doença
neurológica que pode ter diversas causas. Traumatismos cranianos,
neurocisticercose, lesões cerebrais, alterações da formação do cérebro
no período embrionário e hereditariedade são algumas das causas que
levam à epilepsia.
A avaliação completa de um
paciente com epilepsia, especialmente aqueles com um difícil controle
medicamentoso, inclui a análise dos sintomas das crises, do
eletrencefalograma (EEG e vídeo-EEG), dos exames de imagem (tomografia e
ressonância magnética do crânio) e dos testes neuropsicológicos.
Quando esta avaliação
diagnostica que o paciente tem um tipo de epilepsia que pode ser tratada
através de cirurgia, é necessário que ocorra uma perfeita integração
entre as informações clínicas, neuropsicológicas e de imagem para
possibilitar a determinação precisa da zona epileptogênica e a
possibilidade da sua remoção cirúrgica sem causar prejuízo das funções
neurológicas motoras ou cognitivas.
O tratamento cirúrgico de
alguns tipos de epilepsia permite uma visão otimista do resultado final,
sendo que o paciente pode ficar livre das crises e dos medicamentos,
dependendo do diagnóstico pré-operatório.
Alguns exemplos de
epilepsias com bom prognóstico após o tratamento cirúrgico são:
- epilepsia do lobo
temporal associada à esclerose mesial, incluindo a amígdala, hipocampo e
giro parahipocampal, que representa 70% das epilepsias focais do adulto
e geralmente é ligada à crise febril na infância;
- epilepsia lesional
relacionada à presença de tumor, mal-formação vascular, displasias e
outras lesões cerebrais.
A cirurgia consiste na
retirada e desconexão das estruturas que estão gerando as descargas
epilépticas. No caso da esclerose mesial temporal estas estruturas são:
a parte neocortical anterior do lobo temporal, o hipocampo, a amigdala e
o giro parahipocampal.
Entre os pacientes operados que apresentam esclerose
mesial temporal pura, com todos os dados clínicos, eletrencefalográficos
e de imagem concordantes, 70% ficam livres de crises, podendo
interromper o uso de medicamentos anti-epilépticos após 2 anos da
cirurgia. 20% reduzem muito o número de crises, mas precisam continuar
tomando a medicação em dose menor para o controle das crises e 10%
mantém o mesmo número de crises após a cirurgia.
Como o hipocampo é responsável pela
memória, nomeação, fluência verbal, planejamento espacial, entre outras
funções, é esencial a avaliação e acompanhamento neuropsicológico para
analisar o quanto estas funções são executadas pelo hipocampo doente e
minimizar os riscos de possíveis dificuldades pós-operatórias.
Distúrbios de linguagem podem ocorrer
quando a ressecção é
realizada no lobo temporal dominante, como dificuldade de nomeação, e
são transitórios. Distúrbios de campo visual ocorrem com frequência
(quadrantopsias parciais) sem repercussão clínica, o paciente não nota a
diferença e não o atrapalha em nenhuma de suas atividades.
Complicações cirúrgicas podem acontecer e estão descritas
na literatura internacional em torno de 5% dos casos, como infecção na
cicatriz operatória, meningite, déficit motor, dificuldade de fala,
riscos anestésicos, e outros riscos presentes em qualquer cirurgia.
Diversos estudos têm sido desenvolvidos na Universidade
Federal de São Paulo, tanto com os animais de laboratório, quanto com os
tecidos humanos epilépticos ressecados durante as cirurgias,
especialmente o hipocampo, a fim de compreender melhor a epilepsia e
desenvolver novas possibilidades de tratamento.
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|
Por
Marcela Blanco
e
Simone
Bittencourt
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O uso de modelos experimentais tem sido essencial para o
avanço do conhecimento de diversas patologias, bem como na avaliação de
abordagens terapêuticas cirúrgicas e medicamentosas. Neste contexto, a
contribuição dos modelos experimentais de epilepsia tem sido
imprescindível para o conhecimento desta doença. A utilização desses
modelos serve de ensaio para várias técnicas que posteriormente são
usadas na investigação clínica. Além disso, através dos modelos
experimentais são obtidas informações referentes à fisiopatologia das
epilepsias, permitindo que novas drogas antiepilépticas sejam avaliadas
em animais de experimentação, assim como investigados seus mecanismos de
ação, antes destas serem utilizadas na clínica.
A grande diversidade de modelos experimentais está
relacionada com a multiplicidade de fatores envolvidos na epilepsia e
com a variedade de possíveis abordagens para estudar o fenômeno.
Portanto, a escolha do modelo depende dos objetivos da pesquisa, tais
como teste de novas drogas, descrições fenomenológicas (para
identificação de variáveis potencialmente relevantes) ou mesmo para a
determinação dos mecanismos subjacentes.
A epilepsia se caracteriza pela recorrência de crises, mas
a maioria dos modelos experimentais disponíveis são apenas modelos de
convulsão. Um modelo ideal de epilepsia do lobo temporal humana deveria
apresentar crises espontâneas e cronicamente recorrentes, e reproduzir
aspectos comportamentais e fisiopatológicos das crises parciais
complexas humanas associadas à esclerose mesial temporal. Existem alguns
modelos de epilepsia com crises recorrentes, desenvolvidos em roedores,
como o ácido caínico (KA) e a pilocarpina (PILO), os quais induzem uma
série de eventos que simulam aqueles observados na epilepsia do lobo
temporal (ELT) (Ben-Ari, 1985; Cronin e Dudek, 1988; Cavalheiro et al.,
1991; Leite et al., 1991; Mello et al., 1993).
O modelo da pilocarpina,
desenvolvido em 1983 por Turski
e colaboradores, é hoje um dos mais utilizados modelos de epilepsia,
inclusive por nosso labaratório. A pilocarpina é capazes de simular
características histológicas, bioquímicas, farmacológicas,
eletrofisiológicas e comportamentais similares as vistas em humanos
(Turski et al., 1983). A pilocarpina é um alcalóide extraído das folhas da
planta jaborandi (Pilocarpus jaborandi), a
qual possui propriedades colinérgicas capazes de induzir
status epilepticus e assim causar lesões encefálicas, tanto
quando administrada diretamente no encéfalo quanto administrada por via
sistêmica.
Em decorrência do status
epilepticus, observa-se perdas neuronais no hilo e na região CA3 do
hipocampo, assim como também na amígdala, córtex entorrinal, tálamo e
córtex cerebral (Turski et al., 1983). Além disso, surgem brotamentos das fibras musgosas
(Mello et al., 1993), que coincidem com o aparecimento das crises
epilépticas espontâneas, crises com duração de um minuto no máximo,
aparecendo com freqüência variável desde uma crise a cada um ou dois
meses até várias crises por dia (Leite et al., 1990). Geralmente as crises epilépticas são acompanhas por
alterações comportamentais e eletroencefalográficas típicas,
repetindo-se ao longo de toda a vida do animal (Cavalheiro et al., 1991;
Isokawa e Mello, 1991). Dessa forma, a administração de pilocarpina e
conseqüente indução de status epilepticus, reproduz em um modelo
experimental aquilo que acontece na ELT em humanos. Os dados obtidos
tanto em tecido humano, como em modelos experimentais de ELT, sugerem
que o hipocampo é uma das principais estruturas, senão a principal,
envolvida na ELT. |
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Þ
Expressão
Gênica em Modelos Experimentais de Epilepsia |
Por
Marcelo Avedissian |
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O
principal objetivo é a identificação de genes expressos diferencialmente
bem como transcritos raros ou não identificados em tecido neural em
ratos utilizando-se o modelo de epilepsia induzida por pilocarpina. Para
tanto, preparamos bibliotecas de cDNA a partir do RNA obtido do
hipocampo de animais correspondentes aos períodos agudo, silencioso e
crônico. A estratégia para preparação das bibliotecas de cDNA é a
técnica de ORESTES - Open Reading Frame Expressed Sequence Tags. As
seqüências obtidas a partir de tecidos de ratos normais ou com epilepsia
induzida por pilocarpina são analisadas por agrupamento e comparação por
programas de bioinformática permitindo a identificação de genes e
processos envolvidos na epileptogênese. As análises dos padrões de
expressão gênica dos diferentes genes identificados são estudados por
meio de técnicas de RT-PCR, northern blot, western blot,
imuno-histoquímica, entre outras. |
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Copyright Ó
1994 - 2008,
Universidade Federal
de São Paulo |
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